Não acredito em maldição (pelo menos não durante dias claros e simpáticos. De noite é outra história), mas, toda vez que acordo cedo e o Manchester perde de forma bizarra, concluo mentalmente que meu dia vai ser uma merda. E o final de semana também. E o resto do mês. E qualquer decisão que vá ser tomada durante o período negro que sucede a desgraça vista em campo.
É estranho, mas o fato é que, além de ser uma oportunidade clássica de poder morrer do coração torcendo, os noventa minutos de jogo acabam configurando-se como uma espécie de ritual supersticioso, quase místico, onde, dependendo dos acontecimentos, um lapso do futuro pode aparecer bem ali, onde o Ferdinand escorrega, ou mais a frente, no chute torto do Rooney. É o meu tarô, meu búzios. É o preto velho rindo enquanto fuma um cachimbo mais antigo que ele.
Suspensão da descrença. Criação da desgraça. No meio do turbilhão de pensamentos sobre causa e efeito que mais parecem teorias criadas nos tempos do Malleus Maleficarum, fico me perguntando como isso pôde acontecer. O Sábado ia ser tão legal, a manhã tão alegre, várias coisas pra resolver... Agora me vejo incapacitado para exercer qualquer ação, preso a um acontecimento fantástico que não tem esclarecimento (Perder pro Arsenal com o time completo? Só pode ser macumba!). E, o pior, me sentindo um dos prisioneiros de Logjumeau, do conto do Leon Bloy: Por mais que tente escapar, não dá. Não consigo. Sempre volto para o mesmo ponto de partida. 2 x 1.
Com tanto agouro em tão pouco tempo – “pouco tempo” nada, foram seis minutos de acréscimos! – só me resta o básico, voltar a ser cético. Time jogando ruim, resultado ruim. A vida continua, fim. Corpo fechado, despacho, o jeito é andar (ou treinar, no caso dos malditos), trabalhar. Nada de bruxas. Nada.