quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Lá e de volta outra vez

Quero falar sobre Novembro, mas não sei o motivo. Gosto da sonoridade, ela me lembra o passado – passado mesmo, “adj (part de passar) 1 Que passou; decorrido, findo. 2 Imediatamente anterior. 3 Que passou de tempo; avelhantado, velho.”, etc. –, e acabo com a impressão de que esse mês deveria ser mais frio do que é. Lembro também do Resnais, das letras do Opeth e dos Smiths, com uma sensação de que certos medos privados em lugares públicos só têm lógica nessa data. O que não tem nada a ver nem comigo nem com nenhum dos artistas em questão. Mero exercício mental que não leva a lugar nenhum.

De qualquer forma, o passado acaba aparecendo, com trinta dias e várias noites a mais, e as questões ficam flutuando sem motivo, ainda que sejam bem interessantes de serem analisadas. Abro logo o livro de Borges, aleatoriamente, que me cai no seguinte parágrafo:

“’O número de todos os átomos que compõem o mundo é, embora desmedido, finito, e só capaz, como tal, de um numero finito (embora também desmedido) de permutações. Num tempo infinito, o número das permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se repetir. Novamente nascerás de um ventre, novamente crescerá teu esqueleto, novamente chegará esta mesma página às tuas mãos iguais, novamente percorrerás todas as horas até a de tua morte inacreditável. ’ Está e a ordem habitual desse argumento, do prelúdio insípido ao enorme desenlace ameaçador. É comum atribuí-lo a Nietzsche”.

Pois é, a doutrina dos ciclos, do eterno retorno. Apesar dela, não acredito que esta época do ano, com o passado e suas questões, tenha a ver necessariamente com tal lógica. Penso num labirinto gigante. Você anda, anda, anda, e, vez ou outra, acaba passando pelo mesmo caminho. Algumas vezes nota, outras não. Novembro tem cara desses momentos em que se conclui estar visitando o antigo, sem certeza disso (afinal de contas, a única garantia dentro de um labirinto é saber se está lá ou se saiu). A solução é parar e pensar um pouco.

- Teseu, é você?


3 comentários:

Filipe Pardal disse...

Novembro realmente deveria ser mais frio, concordo.
Auuu!

p. disse...

novembro meio que deveria ser extinto. novembro me lembra coisa ruim... seja de passado ou de futuro

lcss disse...

nesse momento sinto saudade de algo que não existiu..