sábado, 8 de novembro de 2008

... Mas que elas existem, existem!

Não acredito em maldição (pelo menos não durante dias claros e simpáticos. De noite é outra história), mas, toda vez que acordo cedo e o Manchester perde de forma bizarra, concluo mentalmente que meu dia vai ser uma merda. E o final de semana também. E o resto do mês. E qualquer decisão que vá ser tomada durante o período negro que sucede a desgraça vista em campo.

É estranho, mas o fato é que, além de ser uma oportunidade clássica de poder morrer do coração torcendo, os noventa minutos de jogo acabam configurando-se como uma espécie de ritual supersticioso, quase místico, onde, dependendo dos acontecimentos, um lapso do futuro pode aparecer bem ali, onde o Ferdinand escorrega, ou mais a frente, no chute torto do Rooney. É o meu tarô, meu búzios. É o preto velho rindo enquanto fuma um cachimbo mais antigo que ele.

Suspensão da descrença. Criação da desgraça. No meio do turbilhão de pensamentos sobre causa e efeito que mais parecem teorias criadas nos tempos do Malleus Maleficarum, fico me perguntando como isso pôde acontecer. O Sábado ia ser tão legal, a manhã tão alegre, várias coisas pra resolver... Agora me vejo incapacitado para exercer qualquer ação, preso a um acontecimento fantástico que não tem esclarecimento (Perder pro Arsenal com o time completo? Só pode ser macumba!). E, o pior, me sentindo um dos prisioneiros de Logjumeau, do conto do Leon Bloy: Por mais que tente escapar, não dá. Não consigo. Sempre volto para o mesmo ponto de partida. 2 x 1.

Com tanto agouro em tão pouco tempo – “pouco tempo” nada, foram seis minutos de acréscimos! – só me resta o básico, voltar a ser cético. Time jogando ruim, resultado ruim. A vida continua, fim. Corpo fechado, despacho, o jeito é andar (ou treinar, no caso dos malditos), trabalhar. Nada de bruxas. Nada.


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Lá e de volta outra vez

Quero falar sobre Novembro, mas não sei o motivo. Gosto da sonoridade, ela me lembra o passado – passado mesmo, “adj (part de passar) 1 Que passou; decorrido, findo. 2 Imediatamente anterior. 3 Que passou de tempo; avelhantado, velho.”, etc. –, e acabo com a impressão de que esse mês deveria ser mais frio do que é. Lembro também do Resnais, das letras do Opeth e dos Smiths, com uma sensação de que certos medos privados em lugares públicos só têm lógica nessa data. O que não tem nada a ver nem comigo nem com nenhum dos artistas em questão. Mero exercício mental que não leva a lugar nenhum.

De qualquer forma, o passado acaba aparecendo, com trinta dias e várias noites a mais, e as questões ficam flutuando sem motivo, ainda que sejam bem interessantes de serem analisadas. Abro logo o livro de Borges, aleatoriamente, que me cai no seguinte parágrafo:

“’O número de todos os átomos que compõem o mundo é, embora desmedido, finito, e só capaz, como tal, de um numero finito (embora também desmedido) de permutações. Num tempo infinito, o número das permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se repetir. Novamente nascerás de um ventre, novamente crescerá teu esqueleto, novamente chegará esta mesma página às tuas mãos iguais, novamente percorrerás todas as horas até a de tua morte inacreditável. ’ Está e a ordem habitual desse argumento, do prelúdio insípido ao enorme desenlace ameaçador. É comum atribuí-lo a Nietzsche”.

Pois é, a doutrina dos ciclos, do eterno retorno. Apesar dela, não acredito que esta época do ano, com o passado e suas questões, tenha a ver necessariamente com tal lógica. Penso num labirinto gigante. Você anda, anda, anda, e, vez ou outra, acaba passando pelo mesmo caminho. Algumas vezes nota, outras não. Novembro tem cara desses momentos em que se conclui estar visitando o antigo, sem certeza disso (afinal de contas, a única garantia dentro de um labirinto é saber se está lá ou se saiu). A solução é parar e pensar um pouco.

- Teseu, é você?